A MÉDIA LUZ

Artigo Original src="http://img.comunidades.net/man/maninhoideal/download_1.jpg" alt="" width="120" height="128" />Os ponteiros do relógio indicam a meia noite, o cheiro da madrugada visita o meu quarto e me deixa inconsciente. Não sei ao certo o que está sendo melhor o antes ou o agora. Um abajur a média luz clareia o meu sorriso de disfarce, finjo que não está faltando nada e que todo o passado foi apenas experiência de vida.

     O vento sopra de mansinho e involuntariamente faz voar um pedacinho de papel, ao apanha-lo  vejo que é um de seus poemas. Como se já não bastasse o frio invadindo as minhas lembranças, ainda tinha de aparecer um papel para desafiar a minha resistência. Falo baixinho, é apenas um papel. 

     Ao lado do abajur alguém parece falar sobre o meu momento, tive uma rápida impressão de que se preocupavam comigo. Apaguei a luz e deixei que a lua invadisse o meu quarto, era possível ver entre tantas estrelas o cinturão de Órion, com suas três estrelas distintas e solitárias. E olhando atentamente vi que não tão diferente de mim, aparentemente tão perto e tão distante.

     Uma coruja cinzenta passa voando próximo a minha janela, parece feliz ou conformada. Sozinha e sem pressa pode sentir o sereno em suas asas e voar no destino que quiser, mas a gente é bem diferente desenha destinos reais e imaginários e por isso sofremos.

     A rua parece deserta, o claro das estrelas é um destaque especial e parece um jogo de luz instalado no infinito. O silencio é tão profundo que se transforma em angústia, inesperadamente surge um ébrio que desafinado canta uma antiga canção de amor. Mas que  importa se ele errou a letra ou a melodia, se na verdade ele teve a coragem de expor o seu sentimento de saudade ou de esperança.

     A passos lentos e desequilibrado passa em frente a minha janela e eu até canto um pouquinho  daquela música que conseguiu me envolver, poucas pessoas sabem o que é ouvir Caminito em uma madrugada fria e saudosa, parece que esse tango penetra em nossa alma deixando um misto indecifrável de amor e loucura.

     O moço seguiu até a próxima esquina e desapareceu mas o som ficou em minha memória, ele era mais uma pessoa em que a solidão visitava e fazia dele um instrumento para divulgar a saudade. De que adiante pensarmos que tudo é para sempre, se na maioria das vezes o pouco parece tudo. Então o melhor remédio para isso é vivermos o hoje como se fosse eterno, e se o amanhã chegar e de uma forma melhor, aí viveremos a eternidade.

 

     Ass.  Maninho.

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