CADEIRA DE BALANÇAR

 

    A casa está vazia, ao entrar sinto o frio do vazio, procuro ignorar, mas como? Em seguida escuto da casa vizinha, sons de conversas, músicas, e risos. Meus pensamentos voltam ao tempo, tento disfarçar e começo a sorrir. 

    Olho em volta, e vejo no canto da sala uma cadeira de balançar, olho fixamente para ela, e em um momento de estranha loucura, dou boa noite. A cadeira começa a balançar em movimentos lentos, parecia que alguém havia se retirado. Não senti nenhuma ação do vento, porque ela começou a balançar? Falei novamente, boa noite, e senti meu corpo tremer. Uma voz respondeu: Estava esperando alguém.

    Demorei alguns segundos e perguntei, esperando quem? Silencio total, e uma voz respondeu, sente-se vamos conversar. sente-se, e seja mais um a reclamar ou murmurar suas queixas, que talvez igual a tantas outras pessoas, que não entendem ou não aceitam isso ou aquilo, como se tivesse isenção por tudo, e disse: Essa cadeira de balançar, parece um confessionário ou o poço dos desejos, sempre tem alguém confessando ou pedindo.

    São tantas histórias, tantas lembranças, que fazem rir e chorar, o balanço dessa cadeira parece uma  grande onda, vai e volta, ao passado e ao presente em segundos. Ah, tantas pessoas já sentaram nessa cadeira para sonhar com o impossível, a chance de voltar ao tempo e fazer tudo diferente.

    Uns lembram os dias de glória, outros lamentam o fracasso, e de balanço em balanço, o tempo vai fazendo a parte dele, passando e passando, e diminuindo a distancia entre o começo e o fim.

    E as pessoas mergulhadas na inconsciência da realidade, dormem pequenos sonos, embalados no que foram grande sonhos. Comentei a minha estupidez, estou sozinho, e conversando com uma cadeira de balançar.

    E escuto: Só não, você ver pessoas falando sozinhas, morando sozinhas, pensando que estão sozinhas, mas nunca estiveram nem estarão. Os sentimentos acumulados ao longo dos anos, não as desprezam, muito menos os mensageiros. As vezes as pessoas estão isoladas, confinadas em si mesmas, e um pássaro ou uma borboleta, voa por perto tirando a concentração, desviando seu olhar em outra direção, aliviando um  envolvimento, com o seu momento atual.

    E isso pode ser um pássaro, uma borboleta, ou um mensageiro, ou seja, nunca estamos só. E nessa cadeira, justamente nela, é que maioria encontram forças para ativar a lembrança, e não encontra para acreditar na esperança.

    Aqui é um trono em decadência, em que se fala muito no antes, pouco no hoje, e quase nada no amanhã. Já ouvi tantos relatos e lamentos, que até me acostumei, e vejam, até eu, reclamo de tanta ingratidão, imaginem, até comigo que sempre estou nos piores momentos, falam que me querem bem distante, logo eu, que sempre fico pertinho de quem pensa que estar só.

Eu e essa cadeira, estamos sempre a ouvir sem reclamar, guardando em silencio tudo que nos contam, de gerações em gerações, e você aí parado, pensando que está só, só não em companhia da invisível e sentida solidão.

 

    Ass.  Maninho.

 

 

Artigo Original