TERRA, CHUVA E ESPERANÇA

    Chegou o mês de janeiro, e com ele a esperança de um bom inverno com muita fartura para garantir o sustento da família. O vento começa a soprar mais brando, já é o suficiente para aquele homem de pele branca e olhos claros iniciar o plantio, amanhece o dia pega uma enxada e alguns litros de milho, uma cuia e começa a cavar a terra para plantar. Cova rasa com cinco grãos em cada uma, fecha a mesma puxando a terra com o pé fazendo com que a poeira se misture ao vento.

    Mais um dia de trabalho, a camisa de mescla escura e manchada de suor, denuncia o quanto o trabalho foi cansativo. Mesmo assim chega em casa cantando, senta-se em um cepo no terreiro e lava os pés com a água que retirou da cacimba do rio. Inesperadamente abre um sorriso, olhos voltados para o nascente ver alguns relâmpagos e escuta o som saudoso de um trovão bem distante. Olha para os filhos e a esposa e comenta: Aposto que vai chover. A noite acabou e a chuva não veio, não foi ainda daquela vez.

    Amanheceu o dia e antes mesmo do sol raiar foi tirar leite da vaca estrelinha. As crianças cada uma com um copinho de alumínio colorido, esperavam ao lado da porteira do curral o leite quentinho. Depois a rotina começava, a esposa ia para a luta diária, os filhos para o colégio e ele ia para a roça plantar ou limpar a terra. De costume lavava os pés e deixava que o vento secasse, não usava toalha, mesmo porque não tinha.

    Naquela tarde uma aragem fria soprava sobre o capim seco do quintal, ele riu e disse, hoje sim vai chover. De madrugada a chuva chegou, foi ficando mais forte e os respingos passavam pelas telhas e caiam no seu rosto, ele acordou e não conseguiu mais dormir de tanta felicidade. Pela manhã o cheiro de terra molhada enchia os pulmões, uma galinha com uma ninhada de pintinhos, ciscavam a terra a procura de algum besouro e ou de pequenas sementes trazidas pela água.

    Nos dias seguintes choveu bastante a babuja cresceu e o mata pasto já estava alto, as vezes era possível ver o pai luis vermelho igual ao fruto do urucuzeiro corria em alta velocidade. Os dias de inverno parecem ser menores, o homem contava história para a família e aos poucos galinhas e capotes iam chegando e se acomodando em uma moita de mofumbo ao lado da casa, em poucos instantes a árvore já estava com os galhos rentes ao chão devido ao peso de tantas aves.

    Esse era o aviso que já era hora de jantar e dormir, sem tv e sem rádio não tinham porque ficarem acordados. Mas aquele homem não cansava facilmente, e começava a cantar modinhas antigas mas que se eternizaram para os que tiveram o privilégio de ouvir.

    No dia seguinte, cabritos e borregos trocavam cabeçadas entre si, pareciam incontroláveis de tanta energia e liberdade, o homem sobe na porteira de pau corrido e solta um aboio tão bonito que parece uma toada, na capoeira a vaca estrelinha responde ao chamado, dá um urro, outro em seguida e em instantes já é possível ouvir o som do chocalho, ela e uma bezerrinha se aproxima do curral.

    Chove quase todo dia, os riachos, lagos e lagoas já estão cheios, a saparada faz a festa, na lagoa o carão grita forte, as jaçanãs passeia sobre as folhas do aguapé e de repente fazem um alvoroço, é uma cobra de veado que se aproxima, e as jaçanãs deram um alerta geral.

    É assim mesmo quando chove no sertão, a terra agradece e oferece o sustento a todos que nela acredita, e aquele homem que sempre viveu de esperança, continua acreditando que com trabalho e perseverança poder criar a família de forma digna, e divulgando que quem trabalha Deus ajuda e quem faz pela vida tem, conseguiu sim, com terra, chuva e esperança, se manter firme, forte e confiante.

 

    Ass.  Maninho.