A tarde aos poucos ia desaparecendo, e a noite com seu manto de encantos abraçava a densa floresta, o vento frio embalava as grandes árvores anunciando a chegada da deusa lua, e essa envolveria toda a vida noturna. O último lobo olhava o chão desenhado pelas sombras, e com um esforço sobrenatural tentou se levantar.
Já não existia mais a matilha, agora era ele e a noite. Com a pata dianteira dilacerada tinha uma enorme dificuldade de caminhar, mas saiu andando lentamente na areia fria de um riacho quase seco, depois de alguns metros chegou a uma pequena cacimba e antes de começar a matar e sede, viu a lua refletida na água e pensou: Quanta injustiça, passeia vida inteira apaixonado por ela, uivei com todas as minhas forças, mas nunca ela me ouviu. Minha deusa, beijo você na poça de água, talvez algum dia o poderoso universo possa nos juntar.
Ao tocar o focinho na água, alguém o beijou, dando-lhe um grande susto, mesmo assim não levantou a cabeça, e com seus enormes olhos cinzentos olhou fixamente para a água. Surgiu uma fada ondina, e sem que ele nada perguntasse, ela falou. Por que está reclamando se ainda pode vê-la, tantos de sua espécie morreram sob a ação dos caçadores, e aí está você, machucado, vivo e nunca sozinho, não tem nem ideia de quantos estão nos galhos admirando a sua coragem de lutar pela vida.
Ele apoiando-se nas patas traseiras, inclinou-se lambeu as feridas e comentou: Talvez você seja um feitiço da lua, mas não importa, você está certa., Mesmo fragilizado ainda vivo, e posso ouvir o urutau nas noites de lua cheia, outros não tiveram a mesma sorte. As vezes vejo passar um pescador de corpo vergado pelo tempo, mas passa cantando uma linda canção, talvez até chorando por dentro, conversa com a lua, as árvores, e quando o pai da mata brincando lhe dá uma cipoada, ele faz é rir e ainda brinca, a gora o sono vai passar.
Sabe, eu gostaria poder dizer para a humanidade que a vida é curta e por isso não podemos perder tempo reclamando, e ser feliz, muitas vezes depende só dos momentos que podemos viver e não vivemos, eu que já morri tantas vezes tenho a certeza que a vida nunca vai acabar, e tão importante quanto viver, é aprender a amar. Olhou em volta e estava falando só, mas com certeza o universo ouviu sua mensagem sobre o amor.
A.L.Bezerra
